segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Tema 2: a era da exposição


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 Em 1948, o escritor inglês, nascido na índia, George Orwell (nascido Eric ArthurBlair) publicou um dos mais instigantes romances daquela década: 1984. Filho de um funcionário público britânico  e uma  francesa, nascera  em Bengala  (na  Índia), em 1903. Oito anos depois, parte para a  Inglaterra, onde permanece em um colégio interno; de 1917 a 1921 freqüenta aulas no Eton College. Ali, foi aluno do prestigiado escritor Aldous Huxley. Apesar de ótimo aluno, voltou à India para servir na polícia imperial, depois de recusar uma bolsa de estudos; seis anos depois, retorna à Inglaterra e passa a viver na mais absoluta pobreza, perambulando pela Europa até 1930. Começa a escrever seus romances, atua na Guerra Civil Espanhola e, durante a Segunda Grande Guerra,  trabalha como  correspondente da BBC.
Há quem diga que seu desencanto com a política fizeram-no escrever A revolução dos bichos (1945) e 1984 (1948). Do romance 1984, a figura do “Grande Irmão”, o “Big Brother”, o Estado plenipotenciário, é o que mais conhecemos. O romance em questão é uma sátira ao poder que desindividualiza, submete e devassa a vida particular dos cidadãos. Dizem que a vida imita a arte e esse é mais um caso: hoje, vivemos rodeados de câmeras; cada ato que praticamos é testemunhado por muitos outros olhos e o que fazemos se torna público (o programa Big Brother é um bom exemplo disso); há grampos telefônicos, paparazzis, hackers de plantão, e as imagens conseguidas vão imediatamente instalar-se na imprensa escrita ou internet. Este é um tempo que parece pertencer menos ao indivíduo e mais ao coletivo, ao público. O que fazemos tende a ser escancarado nos jornais e na net a qualquer dia e hora.

Tecnologia a serviço do crime
Se alguém invadir remotamente seu computador e apagar todos os seus arquivos, nenhum crime terá sido cometido, segundo as leis brasileiras. Invasões, vírus de computador, destruição de dados e novas formas de condutas abusivas uniram-se  a  delitos  “clássicos”  como  pedoflia, racismo e violência moral no ciberespaço, em prejuízo da vida das pessoas no mundo  real. Os invasores são conhecidos popularmente como hackers, mas há  controvérsias  quanto  a  essa  qualificação  pois  alguns consideram que o termo cracker define melhor os invasores. Se no início da internet os hackers  foram  vistos  com  simpatia, por  sua  esperteza  e sagacidade, atualmente são encarados como criminosos. “Os danos são cada vez maiores diante da forte dependência tecnológica existente hoje na estrutura produtiva da sociedade”, diz o advogado  especialista  em direito cibernético Rodrigo Guimarães Colares, do escritório Martorelli e Gouveia. “Se você usa a internet, o  risco de  ser vítima de um crime tecnológico sempre existe”.[...] Na segunda categoria, estariam as práticas ofensivas cujo fim é a lesão a dados ou sistemas computacionais, especialidade dos hackers.  São os crimes chamados “informáticos”, que na maioria das vezes não têm previsão em lei no Brasil e, portanto, a rigor, não podem ser chamados de “crimes” no sentido  jurídico da palavra, diferentemente do que ocorre em outros lugares do mundo. Além de uma infinidade de sites e blogs destinados aos crimes eletrônicos, há o uso de sites de relacionamento, como o Orkut, para essas práticas ilegais.
A polêmica envolvendo o Orkut está na omissão de seus gestores (a gigante Google) diante da incitação a ações criminosas, praticadas por usuários que criam perfis falsos  (fakes) para agir. “Esse é o grande trunfo dos criminosos”, afirma o advogado Márcio Benjamin, do escritório Costa Barros Associados. “Mesmo que  se consiga  identificar o computador de onde partem os delitos pelo endereço IP (número único que  identifica cada computador conectado à  internet), é  impossível afirmar com certeza quem é o usuário que praticou o dano, sobretudo quando as  ações  partem  de  computadores  localizados  em  lan-houses  (casas  de jogos de computadores e internet)”, diz Benjamim. Entre as invasões e alterações ilegais nos sistemas informáticos de cidadãos e empresas, destacam-se roubo de senhas e informações sigilosas para fraudes financeiras, corrupção de arquivos e páginas da  internet e, ainda, seqüestro de documentos importantes (seguido do pedido de altas somas em dinheiro para o resgate). No que diz respeito às  fraudes financeiras, em 2005, houve no país um aumento de 579% com relação a 2004, segundo levantamento do Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes de Segurança no Brasil (Certi.br).

Usuários expõem intimidade e reclamam de invasão de privacidade
É verdade que não há nada mais libertador do que um espaço onde você pode divulgar o que quer, expressar tudo o que pensa, sente, compartilhar suas ideologias e crenças publicamente – sem precisar ter a grana da Rede Globo para tal. Também não há sentimento mais reconfortante do que o de poder conectar pessoas de todo o planeta, conversar com elas em tempo real, a qualquer momento. É maravilhosa a possibilidade de acessar informações vindas de todos os cantos do mundo, visitar bibliotecas, museus, sem sair de casa.
E o prazer de poder encontrar qualquer pessoa e ser encontrado em qualquer canto, a qualquer hora, sem precisar ficar plantado em casa esperando uma ligação? Mais: saber quem está chamando antes mesmo de atender o telefone – seja pelo toque personalizado, pelo bina ou até pela foto da pessoa no visor do aparelho?
Sem dúvida, a internet é o veículo mais democrático que já existiu. E  as  novas  tecnologias  de  comunicação,  como  celulares,  vêm  nos  proporcionando uma sensação de segurança e controle  jamais vistos antes. Além da sensação de nunca estarmos sós. Mas, sabe aquela história de que “a minha liberdade acaba quando começa a do outro”? Parece que as pessoas estão tendo dificuldade em lidar com isso, perdidas diante de tamanha liberdade.
Peraí, liberdade? E o tal controle? Até que ponto estamos controlando ou sendo controlados? Afinal, a popularização de filmadoras, celulares com câmeras, máquinas  fotográficas  digitais,  entre  outras  tecnologias, blogs e sites de relacionamento faz de cada pessoa uma potencial ameaça à privacidade dos outros. Enfim, o que a internet e as novas tecnologias de comunicação têm feito de nós? “A internet não  cria  nada,  é  apenas  um  espelho  da  sociedade, só mostra  o  que  já  existe”,  explica  Erick  Itakura,  psicólogo  e  pesquisador  do NPPI  (Núcleo  de Pesquisa  da Psicologia  em  Informática)  da  PUC-SP  (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Segundo ele, não é à toa que 70% dos 17 milhões dos usuários do Orkut são brasileiros. O fato reflete uma característica cultural. “O brasileiro gosta de se mostrar,  ‘aparecer’, de  ser  ‘social’. Já os norte-americanos e europeus  privilegiam mais a privacidade”, explica. O que mostra que a internet não está modificando nossa noção de privacidade, apenas reproduzindo qual é a nossa real concepção sobre privacidade e até que ponto a valorizamos.
Segundo ele, a internet em si não transforma ninguém em um voyuer, narcisista,  exibicionista  ou  pedófilo.  Tampouco o Orkut é  culpado  por agirmos como crianças de quinta-série competindo com os amigos para ver quem é mais sexy e popular. A rede só abre espaço para as pessoas que já são assim se mostrarem. “Todo ser humano tem certas características. As pessoas  encontraram na  internet o  lugar onde pode  expressar  essas necessidades”, diz.
Dicas “O Orkut é um ‘Big Brother’ virtual. Tem que saber se apresentar ali dentro”, recomenda André Teles, autor do Livro do Orkut, onde dá dicas de marketing para que as pessoas tirem melhor proveito da ferramenta. Segundo Teles, as pessoas estão usando o Orkut sem a consciência da falta de privacidade. É preciso ter muita cautela até por questões profissionais, já que os departamentos de Recursos Humanos das empresas estão usando o site de relacionamento para conhecer melhor o perfil das pessoas. “É preciso ter consciência que o Orkut é uma espécie de homepage sua”, alerta. E explica: “não que você tenha que passar a imagem do que você não é. Mas tem que se expor de  forma que possa  trazer benefícios para você”. Ele dá as dicas: “Fuja de comunidades do tipo ‘odeio acordar cedo’ e ‘odeio o meu
chefe’; bloqueie o visualizador de perfil; se quer privacidade, não use os scraps (recados) do Orkut para procurar relacionamentos, existem outras maneiras de  fazer  isso, como por e-mail; não divulgue  seus  telefones e msn”.

NOTÍCIA: Morre ex-Big Brother Jade Goody, inglesa que fez de seu câncer um reality show
Morreu neste domingo (22), aos 27 anos, a inglesa Jade Goody, que ficou conhecida na versão britânica do programa de televisão Big Brother, em 2002, e que transformou seus últimos meses de vida em um verdadeiro reality show, cujos episódios vendeu para deixar dinheiro para os filhos. Jade morreu em casa, junto com o marido, com quem se casou recentemente em cerimônia cujas imagens vendeu por mais de 1,1 milhão de euros (R$ 3,2 milhões) à revista OK! e à emissora de televisão Living TV, e com seus dois filhos, de quatro e cinco anos, ambos de um casamento anterior.


CRÔNICA: Comedores de lixo (João Pereira Coutinho, colunista da FOLHA)
Que dizer da  história  de  Jade  Goody?  Caso não saibam, Jade Goody foi concorrente do Big Brother britânico, notabilizando-se por sua linguagem e comportamento vulgares. A Grã-Bretanha rendeu-se a ela e encontrou em Goody um novo símbolo da “informalidade” proletária que faz parte da nossa modernidade.
Acontece que Jade adoeceu gravemente (com câncer). A notícia fatal, aliás, foi comunicada à própria em pleno programa televisivo, fazendo disparar as audiências. Mas o melhor ainda estava para vir: se Jade tinha câncer terminal, o melhor era morrer em frente às câmeras, proeza que Jade tem cumprido com profissionalismo de Hollywood. Das operações  cirúrgicas  às  sessões  de  quimioterapia,  sem  esquecer  o  seu  casamento-relâmpago, Jade aproveita as últimas semanas de vida para mostrar ao mundo o seu lento caminho para o fm. Não é de excluir que a tv flme o seu último suspiro. Os produtores garantem que não. Mas se as audiências exigem tudo, por que raio não devem ver tudo? Essa é a questão. O caso de Jade tem alimentado debates infamados na Grã-Bretanha. A discussão centra-se, invariavelmente, na falta de ética da televisão contemporânea, que se aproveita de uma mulher moribunda para fazer negócio. Vozes moralistas condenam os produtores, exigindo rápida intervenção do governo. E Jade Goody, quando confrontada com a pornografia do seu ato, afirma simplesmente que está a pensar nos filhos: duas crianças que ficarão sem mãe em breve e que, graças à prostituição sentimental de Jade, herdarão 1,7 milhões de euros.
Pessoalmente, nada tenho a dizer: sobre Jade Goody e muito menos sobre a tv que filma a sua decadência física. Mas estranho que, no meio da gritaria, ninguém tenha dito o básico. E o básico não está na moribunda, muito menos na tv que filma a moribunda. O básico está numa população anônima de milhões de britânicos que permitem a existência desse caso, consumindo-o com voracidade mórbida. O fenômeno Jade Goody e a repugnante vontade de o filmar até o limite não existiriam se as audiências não existissem. Uma verdade banal? Longe disso. Uma verdade politicamente incorreta: no mundo radicalmente igualitário em que vivemos, não é de bom tom relembrar que as massas nem sempre escolhem com sabedoria e pudor. As massas são muitas vezes analfabetas e repugnantes. O pensamento politicamente correto prefere antes demonizar os produtores (no fundo, os “capitalistas”) que exploram a pobre ingenuidade do povo. Um erro. E uma grosseira piada. Se existe doença neste caso, ela não está em Jade Goody ou no circo televisivo que a filma. Está nos comedores de lixo: gente que liga a tv para se empanturrar, literalmente, até a morte.

A ERA DA EXPOSIÇÃO. O QUE HOUVE COM NOSSA PRIVACIDADE?